sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Se explicado amor não foi
















































2 comentários:

  1. Da crítica. ”Se explicado, amor não foi.”

    “Se...”
    Raymundo é um apanhador de poesias, no melhor dos mananciais – a vida. Da vida brota o que ele de melhor lapida. Dela ele vai arrancando pelas raízes, selecionando, multiplicando em mudas, moldando a seu bel-prazer em tramas que o revela, retratando seus “ais” e “ohs” – pelo bem ou pelo mal – das vicissitudes inerentes à existência: ”...somos crianças acalentando sonhos, ficamos velhos escondendo decepções, sobrevivemos alimentando ilusões.”
    “Se explicado...”
    Ao pinçar essas pérolas ele não só se nos mostra como homem e poeta, mas como um ente que disseca o que lhe vai saltando à frente, numa monocromia que foge dos extremos, e não enclausura a vida entre perdas e danos; ao contrário, transfigura-a numa porção caldalosa e uniforme onde se esconde o veneno indelével, inofensivo, para ser degustado. Sua poesia leva-nos à identificação com fragmentos que a existência nos oferece por circunstância, por acaso, raramente por opção: “...as portas se abrem, as armadilhas são as mesmas!”; “...como poesia, outra vez escorreste por entre meus dedos feito os sonhos da eternidade.”; “...uma saudade por descaso esquecida, uma dor indefinida, necessitada.”
    “Se explicado, amor...”
    O amor na pena de Raymundo, quiçá em sua alma (!), é sentimento acre-doce, configurando-se – para qualquer um que tenha padecido de tal – como pinceladas que se mesclam de saudade, de esperança, de desejo, de libido, de dor, de prazer, de ilusão, de lágrimas, de risos, numa singular ambiguidade que só, e somente só, ao ser humano - ele assim o descobriu – fora concebida tal dádiva: ”...Eu te amo, o que fazer? Nem entendo o que dizer? Somos escravos da mesma estrofe, (atrelados aos mesmos grilhões, digo eu) do mesmo verso, da mesma rima, por que não do mesmo amor?...” Nas entrelinhas ele ri, estremostrando os dentes, num rictus indefinido entre o cândido e o viperino, numa dupla persona como sói ser com seus pares. Sorri na dor, geme no prazer, deixando-se conduzir, enjaulado nessa coisa inconsistente, maravilhosa, amorfa e inexplicável.
    “Se explicado, amor não foi.”

    Rui Lopes
    Cineasta

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  2. ENTREVISTA – RAYMUNDO DE SÁ

    O porquê do título?
    Por que acho, que de todos os sentimentos, o amor até hoje tem revestido as explicações das pessoas, até mesmo os poetas.

    Em algum momento, a poesia define o amor?
    A poesia apenas descreve, dá indicios. Esforça-se até o limite do compreensível, mas não consegue definir.

    Da prosa à poesia. Qual o caminho mais ameno?
    Sem dúvida alguma o da poesia; porque, pelo menos para mim, a poesia flui e quando noto ela já está pronta e acabada. Acho que isso decorre do fato que, quando escrevo poesias, apenas transcrevo o que sinceramente sinto, são meus os sentimentos ali revelados. Na prosa, digamos no romance, são os sentimentos dos personagens, esses sentimentos não são meus e, por isso, nem sempre é fácil torná-los consistentes com a personalidade do personagem.

    Quando de passa dos 70 anos, a poesia, a inspiração para ela, é encontrada nos mesmos lugares da juventude?
    Quase sempre não, pois se descrevo um amor, é por que o estou sentindo neste momento. Ai entra um componente importante do amor: a esperança. Quando se envelhece (se passa dos 70) o mais que eu posso é imaginar e escrever algo que começa assim: “Agora, que só me resta sonhar, é que por acaso te encontro…”

    Recado aos jovens que tentam explicar (ou prender) o amor:
    Mais do que explicar ou prender o amor, eu diria que os jovens precisam, com urgência ler o que está na primeira página que inicia este meu livro: “Quando aprendi a ser filho, meus pais haviam morrido. Quando aprendi a ser pai, meus filhos haviam crescido. Quando aprendi a amar, meus amores haviam partido”.

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